
"Não posso subestimar a inteligência alheia. Não posso conceber que uma pessoa que chegue a um cargo como o de presidente da República permaneça alheia ao que está ocorrendo"Ele não parece se incomodar quando os desafetos o chamam de "voto vencido". Até a Wikipédia o define assim, numa referência às decisões solitárias tomadas em julgamentos. "Sou voto vencido também em casa. Não há hierarquia. Ela manda", brinca Marco Aurélio Mello, ministro do Supremo Tribunal Federal, fazendo referência à esposa, a desembargadora Sandra de Santis, mãe de seus quatros filhos.
O ministro não se importa de ficar sozinho nos julgamentos, mas não gostaria de estar no lugar da presidente Dilma Rousseff. Para Marco Aurélio, a chefe do Executivo foi abandonada por todos, inclusive pelo próprio partido, em meio à crise decorrente das denúncias da Operação Lava-Jato. "Ela está muito isolada, e isso não é bom institucionalmente", acredita o ministro.
Embora a considere honesta, Marco Aurélio duvida que negociatas e desvios de recursos da Petrobras tenham ocorrido sem um conhecimento mínimo da presidente Dilma, que comandou o conselho de administração da empresa hoje envolvida no escândalo.
Há 25 anos no STF, o carioca de 68 anos manifesta sua preocupação com a situação do país. Eloquente, polêmico e sistemático com horários e compromissos, ele quer ser julgado pela história como "servidor". O ministro recebeu a reportagem em sua casa, no Lago Sul.
Sobre as recentes declarações do ex-presidente Lula, observa: "O criador está arrependido da criatura". Antes de começar a entrevista, o ministro classificou de "trepidante e equivocada" a disposição do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, de votar à força a maioridade penal. Ligado o gravador, Marco Aurélio disse que há certa banalização nas prisões da Lava-Jato, e falou de reajuste dos servidores, magistratura e futebol. Sobre este último ponto, Marco Aurélio enfrenta dissabores profundos com o Flamengo, time do coração. "É muito sofrimento", lamenta o fanático rubro-negro.
Estado de Minas
Foto: Marcelo Ferreira /CB/D.A Press.
Foto: Marcelo Ferreira /CB/D.A Press.